Declaração do grupo do Partido de Esquerda no Brasil em apoio às chamadas a manifestar dos sindicatos e do Movimento dos Sem Terras

As manifestações contra o aumento dos custos dos transportes públicos lançadas no início de junho pelo Movimento Passe Livre deflagraram um amplo movimento cidadão no Brasil todo. Este movimento apartidário com reivindicações políticas e sociais múltiplas expressa-se, faz um mês, em centenas de municípios, de forma muito variada e sob a impulsão de atores muito diversos segundo as regiões e localidades.

Reivindicações para melhoras serviços de saúde, educação e transporte; luta contra a corrupção; igualdade de direitos para gays e lésbicas; recuso a projetos faraônicos empreendidos para a Copa do Mundo; queixas locais para melhores infra-estruturas são uma amostra da constelação de demandas expressadas pelo povo.

Nós, Franceses /as de esquerda residentes no Brasil, saudamos este movimento e suas legítimas demandas, sua vitalidade, sua espontaneidade e sua heterogeneidade, e apoiamos suas reivindicações. Ele traduz uma vontade de afirmação do povo e de democratização participativa da sociedade. Representa um passo para a “revolução cidadã” que avança em toda America do Sul e que é uma fonte de inspiração para a esquerda européia.

Estamos conscientes dos limites desta mobilização. Cobertura sensacionalista e redutora pelas mídias; tentativas de recuperação pela direita; presença de contingentes de manifestantes despolitizados e manipuláveis; dificuldades para definir estratégias políticas claras: tais distorções são bem reais. As forças conservadores tentam explora-os contra Dilma para agendar a reconquista do poder, o que acabaria com todas as esperanças de uma vida melhor levantadas por este movimento.

Por isso, saudamos e apoiamos o ingresso no movimento das organizações “tradicionais” da esquerda, notadamente as centrais sindicais e o MST. Elas podem dar um novo impulso ao movimento, apontar mais claramente os responsáveis dos problemas do Brasil e ancorar melhor as reivindicações sociais. E uma oportunidade que não se pode perder para uma redistribuição das riquezas, para uma reforma política dirigida contra a corrupção e a favor de um melhor exercício da cidadania, assim como para a reforma agrária indispensável a afirmação de um Brasil mais justo e mais ecológico.

Enquanto o reembolso da dívida pública do Brasil , detida majoritariamente por famílias ricas, representa 40% do orçamento federal, sendo que a saúde representa não mais que 4% e a educação 3%, o confronto entre as forças do trabalho e as do capital é inevitável. Este mesmo confronto se trava na França e na Europa onde os orçamentos sociais estão cortados por regimes pro- austeridade atentos a satisfazer a troika do BCE, do FMI e da Comissão Européia.

E portanto num espírito de universalismo e solidariedade que apoiamos o “Dia nacional de lutas para as liberdades democráticas e os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras” que envolveu todo o pais no ultimo 11 de julho, chamado pelo movimento sindical e os partidos de esquerda, e que apoiamos também as ações previstas em agosto. Chamamos nossos companheiros dos partidos da esquerda brasileira a agarrar esta brecha aberta pelo povo para pesar sobre as relações de força a favor da esquerda no Congresso, no governo, nos municípios, na economia e na rua. A perspectiva das eleições em 2014 abre uma agenda de diálogo social inédito que deve se manter e crescer, a cada vez mais rico e crítico.

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